18 de janeiro de 2013

René Rémond - O século XX


RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias. 12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

Sendo a última parte da coleção Introdução à história de nosso tempo, O século XX é exatamente que se propõe a ser. Uma introdução à história do século XX, ou ao menos parte dele; assim como Hobsbawn e tantos outros, Rémond sugere aceitar a ideia de que o século XX se inicia, efetivamente, com a Primeira Guerra Mundial, primeiro capítulo desta obra. O livro em questão foi lançado em 1974, em meio à Guerra Fria (apesar do seu período de maior tensão já ter passado), perto do fim da Guerra do Vietnã (mal é citada) e, por compreender um período de cerca de sessenta anos, acaba dando muito destaque aos dois conflitos mundiais.

René Rémond é mais conhecido por seus trabalhos sobre história política, e tal preferência é explícita neste trabalho. Sua principal característica, explícita em todos os capítulos, é o fato de Rémond optar por trabalhar sobre causas e consequências dos eventos que se dispõe a relatar. Os complexos meandros que precedem as duas grandes guerras são mais dissertados dos que os próprios conflitos – o capítulo dedicado à Segunda Guerra tem apenas cinco páginas – e suas consequências idem.

Os capítulos que fogem um pouco – ainda que não totalmente – das duas guerras (considerando que capítulos como “A  crise nas democracias liberais” estão totalmente ligados a elas – são dedicados ao comunismo na União Soviética e a questões relativas a outros recortes geográficos, abarcando períodos anteriores e posteriores aos dois conflitos. Temos um capítulo dedicado ao mundo comunista, à descolonização (focando na África), o despertar da Ásia (leia-se Japão, China e Índia), o despertar do mundo Árabe e a ascensão econômica da Europa nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial; tal recuperação deveu-se ao fato de sua economia estar totalmente devastada no após-guerra e os Estados Unidos se tornarem a maior potência mundial, em conflito majoritariamente ideológico com a União Soviética, que para alguns países europeus era considerada uma ameaça, tanto militar quanto politicamente.

No mesmo capítulo, Rémond se justifica sobre ter optado por, no decorrer do livro, relatar os eventos escolhidos do século XX pautando-se pela história da Europa, ou da intervenção européia em outros países. O autor afirma que não julga ser a história européia a única que merece ser estudada ou que os demais povos não têm história – um paradigma há muito ultrapassado por qualquer historiador minimamente sério. Sua opção dá-se, segundo Rémond, porque da Europa partiram as tentativas de unificação do mundo, exploradores, descobridores e foi a grande exportadora de ideias e homens. Ignoremos aqui o fato de Rémond ser filho da historiografia francesa. Uma postura assumidamente eurocêntrica, ainda que não comprometa a validade da obra.

A conclusão do livro se dedica a pensar em fatores que poderiam ser motivo de união ou fragmentação do mundo, inferindo esperanças de maior união, não apenas politicamente, mas linguística e culturalmente, mas ao mesmo tempo apresentando obstáculos habituais.

A obra de Rémond é uma introdução excelente para diversos dos temas que trata, mas ao mesmo tempo, corre risco de ser interpretada como determinista. O apego que o autor tem pelo eixo “causas e consequências” é extremo, e ele segue uma análise cronológica de eventos que, confluídos, contribuíram para o panorama que culminou nos eventos aventados – as grandes guerras, revolução russa, revoluções no Oriente Médio, etc.

Ainda assim, mais do que compreender eventos cujo panorama político foi determinante, compreendemos a importância das diferentes ideologias na formação do mundo contemporâneo. Além disso, é possível compreender como os conflitos do século XX e a ampliação do acesso à informação fizeram com que os povos desenvolvessem consciência sobre o pertencimento a um mundo complexo, porém, bem delimitado, não aquele mundo abstratamente gigantesco e desconhecido de outrora; dessa forma, as distâncias oriundas do desconhecimento do outro, aos poucos, se dissipam, embora por vezes elas ressurjam.

Uma excelente leitura introdutória para compreender não apenas os cerca de sessenta anos que o livro trata, mas também para compreender elementos posteriores. Contudo, outras leituras mais abrangentes que aprofundem as questões do livro, e mesmo de recortes geográficos que o livro deixa em segundo plano ou ignora, são necessárias.

Preço médio: R$ 20,00

LEIA TAMBÉM, COM CAPÍTULO DO MESMO AUTOR:
Questões sobre a história do presente

15 de janeiro de 2013

Noam Chomsky - Ambições imperiais


CHOMSKY, Noam. Ambições imperiais: o mundo pós 11/9. Rio de Janeiro. Ediouro, 2006.

Ambições imperiais, coletânea de entrevistas concedidas a David Barsamian, segue a mesma linha de outros livros de Chomsky baseado em entrevistas, onde as perguntas são não apenas pertinentes, mas determinantes para o rumo da conversa, sempre dialogando com as possibilidades que a memória do entrevistado apresenta. Chomsky mostra-se um verdadeiro prodígio da memória, recordando de detalhes sobre diversos eventos em diferentes épocas e lugares.

O livro em questão pode ser considerado, cronologicamente, uma sequência de Propaganda e consciência popular, sendo a primeira entrevista datada de 22 de março de 2003, e tem  como principal eixo algo que já estava em pauta no livro anterior: o intervencionismo dos Estados Unidos no resto do mundo e suas principais razões, o que explica o título da obra. O autor afirma que, antes do desenrolar das ações da política externa dos EUA após o 11/9, chamar a potência de império era algo de caráter pejorativo. Após os atentados e a invasão do Afeganistão e do Iraque, o comportamento imperialista dos EUA ficou explícito o bastante para que o termo não soasse como um simples ataque, mas se tornasse uma classificação adequada sobre o que ocorre desde então, ainda que já o fosse em contextos anteriores.

Chomsky aponta o clima de insegurança constante que a população dos Estados Unidos, o que justifica como a propaganda – muitas vezes apoiada em argumentos ridículos para qualquer pessoa instruída, crítica e atenta – é tão efetiva em fazer com que sua população passe a apoiar os ataques terroristas perpetrados pelo país. Estes, cobertos de eufemismo, são chamados de “ataques preventivos”, entre outros termos, por se tratarem de atitudes da grande potência bélica mundial. As mesmas atitudes tomadas pelos EUA, quando tomadas por outros países, são chamadas, no mínimo, de terrorismo.

O autor disserta sobre o fato de que sociedades democráticas são o campo fértil que a propaganda precisa, pois um governo autoritário com controle efetivo de seu pais precisa menos de propaganda (o que não quer dizer que não precise) do que um país democrático que precisa convencer sua população a validar suas intenções e atitudes. No capítulo “linguagem colateral”, este e outros assuntos são tratados, mediante um histórico da propaganda e da “engenharia social” nos Estados Unidos.

Vale citar que outros eventos, como a Guerra da Coréia, Vietnã e outros conflitos são contemplados pelo livro, e Chomsky faz questão de pontuar os motivos para cada uma, que nada têm a ver com a manutenção da democracia, mas sim, controle de territórios estratégicos e supressão de exemplos incômodos. Em diversos casos, ao invés da invasão, os EUA se resumem a apoiar golpes de estado, colocando nos governos dos locais líderes corruptos e violentos. Pouco importa que os estados em questão se tornem ditaduras cruéis, muito longe de qualquer coisa que possamos chamar de democracia: o que importa é que os  governantes desses países andem na linha. Também está longe de ser democrática a atuação dos EUA nas Organização das Nações Unidas, já que o poder de veto que o país possuí não apenas trabalha, integralmente, em seu favor, mas também bloqueia soluções diplomáticas para conflitos que são levados adiante por questões de interesse político e econômico.

Além destas questões, Chomsky afirma que a “guerra de agressão” ao Iraque se deu pela mudança de postura de Saddam Hussein em relação aos Estados Unidos. Anos antes, ainda que fosse um ditador homicida, Hussein era apoiado pela potência ocidental, até que seu comportamento passou a incomodar. Iniciaram-se sansões econômicas que arruinaram a economia do país, mas foi a partir da propaganda pós 11/9, que fez com que pelo menos metade da população dos EUA acreditasse que o Iraque e Saddam Hussein teriam relação direta com os ataques que a invasão, de fato, começou, visando a abertura do país para o capital estrangeiro e o controle do petróleo. Não se trata apenas de ter as reservas de petróleo, mas também controlar a distribuição dele para o resto do mundo a partir de sua produção do Oriente Médio. Não basta possuir os recursos; controlar sua distribuição afeta as demais economias dependentes deles.

Chomsky, como é tradição, responde a questões determinantes sobre o que se pode fazer para bater de frente com esse panorama, aparentemente imutável. O autor vê a mobilização popular constante, não apenas protestos pontuais, como a solução para tais questões, algo que o autor já afirma há muito tempo. Não se trata de uma solução a curto ou mesmo médio prazo – tais soluções não existem nesse caso. Trata-se de uma mudança gradativa que se apresenta como tarefa árdua, mas é possível.

Ambições imperiais é altamente recomendável. Sua leitura é fácil e instigante, e apresenta os argumentos e eventos de forma muito clara, objetiva. Para quem se interessa pela conjuntura internacional de início do século, envolvendo os Estados Unidos e sua violência mascarada de “democracia”, além do histórico de tais questões, o livro é indispensável.

Preço médio: R$ 40,00

13 de janeiro de 2013

Noam Chomsky - O que o Tio Sam realmente quer


CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília. Editora Universidade de Brasília, 1999.

A obra aqui analisada, O que o Tio Sam realmente quer, não difere drasticamente de outras obras do autor, sejam seus textos ou entrevistas concedidas. Porém, ainda que seja um livro que dá seguimento a análises anteriores sobre política, economia e sociedade de eventos recentes da história mundial – principalmente no que concerne aos Estados Unidos –, é uma obra muito direta, disposta a analisar aspectos pontuais e cuja linha de raciocínio é muito coesa. Arriscaria dizer que este é um dos melhores livros para aqueles que não conhecem Chomsky e suas sagazes críticas políticas e sociais, principalmente aos Estados Unidos.

Logo de cara, Chomsky inicia seu texto explicitando os objetivos da política externa dos Estados Unidos, desenvolvida sobre a insegurança constante e argumentos descabidos sobre proteção do território, tomando a Segunda Guerra Mundial como divisor de águas por ser após o conflito que tais políticas se intensificaram com força, mais precisamente por conta da dita “Guerra Fria”. Um período onde cerca de 50% da riqueza mundial estava sob controle dos Estados Unidos, além dos dois lados do oceano, um controle sem precedentes na história mundial, segundo o autor.

Nesse mesmo contexto percebe-se a necessidade de se intensificar a pressão sobre a União Soviética a fim de minar o país e controlar a sucessão do governo soviético. Chomsky defende no decorrer de todo o livro que o principal objetivo dos Estados Unidos em derrubar os soviéticos, atacar regiões supostamente inexpressivas como o Laos, Vietnã do Sul, Nicarágua e outros não se dá apenas por localização estratégia ou recursos – por vezes nenhum desses elementos faz parte da equação. O grande objetivo por trás dessas ações é a supressão de exemplos: na maior parte desses locais, governos realmente democráticos – ao contrário do governo dos EUA – desenvolviam-se de forma vigorosa, sob aval popular e, por vezes, com caráter nacionalista, fechado à intervenção do capital externo. Tais exemplos, se bem sucedidos, poderiam influenciar outros países, ou mesmo camadas populares nos EUA, o que seria inadmissível.

Eis o motivo pelo qual Chomsky defende que os Estados Unidos, se não conseguiram atingir todos os objetivos com a Guerra do Vietnã, pelo menos saíram vitoriosos. O país foi destruído, milhares de camponeses foram mortos, os efeitos do Agente Laranja e outras armas químicas e biológicas são sentidos até hoje e, principalmente, a economia do país foi arrasada, fazendo com que um desenvolvimento adequado nos moldes anteriores a Guerra seja uma realidade pouco plausível, pelo menos nas próximas décadas.

O livro foi lançado na década de 1990, portanto, não inclui debates a respeito da postura dos Estados Unidos a partir dos atentados ao World Trade Center. Contudo, é muito claro para o leitor que as atitudes de perfil imperialista dos EUA estão longe de serem inéditas, e a forma como elas são desenvolvidas não mudou em sua essência: interferência direta na política de países onde há movimentação considerada subversiva (sentimos isso na pele com a ditadura militar, citada no livro como responsável  pelo estado de miséria em que o Brasil se encontrava ao fim do regime), invasão de inimigos indefesos, pressão para a abertura do país para o capital estrangeiro, morte de civis, crimes de guerra entre diversos outros abusos; estes, aliás, não são poupados neste livro, que cita com detalhes a violência de grupos paramilitares na América Latina, como os Contra e o Batalhão Atlacatl. Chomsky mostra também como ditadores brutais (Somoza, Saddam Hussein, Suharto) são apoiados na tomada do poder em seus países por parte dos EUA e cuja permanência é apoiada, desde que atendam aos interesses da grande potência bélica mundial.

Como de praxe, Chomsky apresenta suas ideias de como devemos lidar com esse tipo de situação; em outras palavras, o que fazer. Embora ele fale, principalmente, ao leitor dos Estados Unidos, seus exemplos são universais. O fato de tais ideias se repetirem em diferentes trabalhos mostra a obstinação do autor nesse sentido. Conforme seus livros são lançados percebemos que os tópicos com os quais Chomsky trabalha fazem parte de uma longa estrutura de política expansionista, seja no sentido de expansão territorial ou de influência. Como dito anteriormente, trata-se de um dos melhores livros para ser apresentado a Noam Chomsky.


Preço médio: R$ 18,00

LEIA TAMBÉM, DO MESMO AUTOR:
Ambições imperiais
Propaganda e consciência popular

4 de janeiro de 2013

Agnès Chauveau, Philippe Tétart: Questões para a história do presente


CHAUVEAU, Agnès; TÉTART, Philippe. Questões para a história do presente. Bauru: EDUSC, 1999.

História imediata, história do presente, história contemporânea; independente da forma como encaramos a história de eventos muito recentes e como a classificamos, por muito tempo tal história se mostrou – e talvez possamos dizer que ainda se mostra – espinhosa e carregada de problemas. Academicamente, nos círculos historiográficos, há quem torça o nariz para o estudo do presente, classificando como trabalho de sociólogos, cientistas políticos, entre outros; os acontecimentos não teriam a maturação e o distanciamento necessários ao historiador para que pudesse fazer uma análise mais apurada, com acesso ao desenrolar dos eventos, com a melhor definição do papel dos eventos na conjuntura de média e longa duração e supostamente mais distante de influencias ideológicas do momento. Trabalhos como o conciso Questões para a história do presente adicionam reflexões indispensáveis a esta discussão, demonstrando que mesmo carregadas de problemas, a história do tempo presente deve ser encarada.
            
Lançado na primeira metade da década de 1990, o livro é um produto de sua época – ainda que tal afirmação seja óbvia –, e por se tratar de uma obra da historiografia francesa, está carregado de exemplos de trabalhos franceses, além de citar exemplos que são mais próximos a suas realidades, como a repetição da Guerra da Argélia como exemplo de história recente, contribuindo, principalmente, no papel da memória na história do presente (discutido mais profundamente no capítulo de Robert Frank, “Questões para as fontes do presente”). Além do mais, ele carrega a influência da queda do regime soviético e o fim da guerra fria em alguns de seus capítulos.

Após uma bem estruturada introdução dos organizadores do livro cujo título dá nome à obra, discutindo diversas questões sobre história do tempo presente – como a necessidade do distanciamento para com as fontes, ou mesmo o fato de a história do presente partir, em partes, de uma demanda social pós anos 1950 –, os capítulos se desvelam em diferentes temas, propostos por Chauveau e Tétard. O primeiro, escrito por Jean-Pierre Rioux discute a própria possibilidade de se fazer uma história do presente, diante da condensação das informações midiatizadas. O mesmo autor escreve um capítulo posterior, discutindo a relação da história com o jornalismo, e mostra-se muito crítico aos historiadores e acadêmicos que rejeitam a história do tempo presente, sob argumentos já citados aqui.

René Remónd permanece no campo do político, o qual lhe rendeu alguns de seus mais conceituados trabalhos, dissertando sobre a suposta volta da história política. Um conceito de “volta” que não deixa de ser problemático, por dar a entender o retorno de concepções historiográficas ultrapassadas, como se nada houvesse sido alterado nesse retorno. Rémond admite, não sem razão, que o político também pode ser um objeto de conhecimento científico, além de explicação de outros fatores além de si mesmo. Vale dizer que, corretamente, Rémond encaixa o político numa história de longa duração; compreendê-lo apenas por contingências é uma tarefa não apenas muito difícil, como também metodologicamente errônea.
      
Já Jean-Jacques Becker dedica seu capítulo a discutir o marxismo e o comunismo na história do presente; ou pelo menos essa seria a proposta. Becker traça um histórico sobre as dificuldades dos estudos sobre o comunismo (lembremos o contexto em que o livro foi escrito) e relega o marxismo a dois parágrafos ao fim do capítulo; apesar disso, faz uma sagaz observação ao afirmar que as análises de Marx, embora ainda relevantes para aspectos específicos da história do século XIX e XX, são comumente

simplificadas, adotadas de modo mecânico e em muitos casos inconsciente, além de terem um papel de “esterilização do trabalho histórico, pretendendo submeter toda a análise das sociedades humanas praticamente a um único tipo de explicação e negando, ou melhor, rejeitando o pano de fundo das explicações da evolução das sociedades e do comportamento dos homens que são, por exemplo, o espiritual, a ideia nacional...[1]

Jean-François Sirinelli dedica seu capítulo a uma reflexão importante e cuja atualidade não esmorece: a influência da ideologia nos trabalhos historiográficos, e como este problema pode ter maior peso em trabalhos de história recente, onde por vezes a ideologia na qual um historiador – ou qualquer outro estudioso – podem estar inserido, conscientemente ou não, não é identificada; ou seja, ao contrário de trabalhos sobre uma história mais distante, onde as ideologias presentes no contexto são mais facilmente identificadas e distanciáveis. Na sequência, Jacques Le Goff posiciona-se como um medievalista diante do presente, e aproveita o espaço para reforçar a importância de se relacionar o passado distante do presente – adotando, para o capítulo, a cronologia “oficial” de Idade Média, apesar de citar seu conhecido conceito de Idade Média permanente até o século XIX no plano material.

Voltamos ao já citado Robert Frank, responsável pela discussão sobre as fontes do tempo presente, discutindo metodologicamente as vantagens e desvantagens do uso de fontes orais, escritas e a relação da memória com a história. Embora tais discussões sejam encontradas em diversas obras de forma mais aprofundada, Frank consegue condensar as ideias principais e levantar, também, os principais problemas em cada caso, além das obrigações do historiador diante de tais dificuldades. Ao fim, o também citado capítulo de Jean-Pierre Rioux sobre a relação da história e do jornalismo e a conclusão, por parte de Serge Bernstein e Pierre Milza; esta condensa as ideias do livro em poucas colocações, retomando a influência de Braudel que permeia todos os capítulos a respeito da necessidade do historiador situar os fatos e as contingências na média e longa duração para que se possa compreender mais satisfatoriamente os motivos, sentidos, relevância e, talvez, consequências desses acontecimentos contemporâneos pontuais.

Como característica negativa, a edição/impressão analisada contém um número excessivo de erros de digitação, que demonstra um aparente desleixo com o trabalho de revisão; de qualquer modo, é algo que pode ter sido corrigido em impressões mais recentes e não compromete em nada o entendimento da obra.
           
Trata-se de um trabalho muito conciso e em alguns momentos pode parecer mesmo datado, mas é impossível negar sua qualidade. Considero este livro uma leitura obrigatória para qualquer historiador da história recente, ou mesmo imediata, pois mesmo que outras obras abordem, em separado, os temas deste livro com mais aprofundamento, Questões para a história do tempo presente as condensam de forma clara, objetiva e prática.

Preço médio: R$ 20,00



[1] BECKER, Jean-Jacques. “Marxismo e comunismo na história recente”. In: CHAUVEAU, Agnès; TÉTART, Philippe. Questões para a história do tempo presente. Bauru: EDUSC, 1999, p. 72.