CHOMSKY, Noam. Ambições imperiais: o mundo pós 11/9.
Rio de Janeiro. Ediouro, 2006.
Ambições imperiais,
coletânea de entrevistas concedidas a David Barsamian, segue a mesma linha de
outros livros de Chomsky baseado em entrevistas, onde as perguntas são não
apenas pertinentes, mas determinantes para o rumo da conversa, sempre
dialogando com as possibilidades que a memória do entrevistado apresenta.
Chomsky mostra-se um verdadeiro prodígio da memória, recordando de detalhes
sobre diversos eventos em diferentes épocas e lugares.
O livro em
questão pode ser considerado, cronologicamente, uma sequência de Propaganda e consciência popular, sendo
a primeira entrevista datada de 22 de março de 2003, e tem como principal eixo algo que já estava em
pauta no livro anterior: o intervencionismo dos Estados Unidos no resto do
mundo e suas principais razões, o que explica o título da obra. O autor afirma
que, antes do desenrolar das ações da política externa dos EUA após o 11/9,
chamar a potência de império era algo de caráter pejorativo. Após os atentados
e a invasão do Afeganistão e do Iraque, o comportamento imperialista dos EUA
ficou explícito o bastante para que o termo não soasse como um simples ataque,
mas se tornasse uma classificação adequada sobre o que ocorre desde então,
ainda que já o fosse em contextos anteriores.
Chomsky aponta o
clima de insegurança constante que a população dos Estados Unidos, o que
justifica como a propaganda – muitas vezes apoiada em argumentos ridículos para
qualquer pessoa instruída, crítica e atenta – é tão efetiva em fazer com que
sua população passe a apoiar os ataques terroristas perpetrados pelo país.
Estes, cobertos de eufemismo, são chamados de “ataques preventivos”, entre
outros termos, por se tratarem de atitudes da grande potência bélica mundial.
As mesmas atitudes tomadas pelos EUA, quando tomadas por outros países, são
chamadas, no mínimo, de terrorismo.
O autor disserta
sobre o fato de que sociedades democráticas são o campo fértil que a propaganda
precisa, pois um governo autoritário com controle efetivo de seu pais precisa
menos de propaganda (o que não quer dizer que não precise) do que um país
democrático que precisa convencer sua população a validar suas intenções e
atitudes. No capítulo “linguagem colateral”, este e outros assuntos são
tratados, mediante um histórico da propaganda e da “engenharia social” nos
Estados Unidos.
Vale citar que
outros eventos, como a Guerra da Coréia, Vietnã e outros conflitos são
contemplados pelo livro, e Chomsky faz questão de pontuar os motivos para cada
uma, que nada têm a ver com a manutenção da democracia, mas sim, controle de
territórios estratégicos e supressão de exemplos incômodos. Em diversos casos,
ao invés da invasão, os EUA se resumem a apoiar golpes de estado, colocando nos
governos dos locais líderes corruptos e violentos. Pouco importa que os estados
em questão se tornem ditaduras cruéis, muito longe de qualquer coisa que
possamos chamar de democracia: o que importa é que os governantes desses países andem na linha.
Também está longe de ser democrática a atuação dos EUA nas Organização das
Nações Unidas, já que o poder de veto que o país possuí não apenas trabalha,
integralmente, em seu favor, mas também bloqueia soluções diplomáticas para
conflitos que são levados adiante por questões de interesse político e
econômico.
Além destas
questões, Chomsky afirma que a “guerra de agressão” ao Iraque se deu pela
mudança de postura de Saddam Hussein em relação aos Estados Unidos. Anos antes,
ainda que fosse um ditador homicida, Hussein era apoiado pela potência
ocidental, até que seu comportamento passou a incomodar. Iniciaram-se sansões
econômicas que arruinaram a economia do país, mas foi a partir da propaganda
pós 11/9, que fez com que pelo menos metade da população dos EUA acreditasse
que o Iraque e Saddam Hussein teriam relação direta com os ataques que a
invasão, de fato, começou, visando a abertura do país para o capital
estrangeiro e o controle do petróleo. Não se trata apenas de ter as reservas de
petróleo, mas também controlar a distribuição dele para o resto do mundo a
partir de sua produção do Oriente Médio. Não basta possuir os recursos;
controlar sua distribuição afeta as demais economias dependentes deles.
Chomsky, como é
tradição, responde a questões determinantes sobre o que se pode fazer para
bater de frente com esse panorama, aparentemente imutável. O autor vê a
mobilização popular constante, não apenas protestos pontuais, como a solução
para tais questões, algo que o autor já afirma há muito tempo. Não se trata de uma
solução a curto ou mesmo médio prazo – tais soluções não existem nesse caso. Trata-se
de uma mudança gradativa que se apresenta como tarefa árdua, mas é possível.
Ambições imperiais é altamente
recomendável. Sua leitura é fácil e instigante, e apresenta os argumentos e
eventos de forma muito clara, objetiva. Para quem se interessa pela conjuntura
internacional de início do século, envolvendo os Estados Unidos e sua violência
mascarada de “democracia”, além do histórico de tais questões, o livro é indispensável.
Preço médio: R$ 40,00
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