CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer.
Brasília. Editora Universidade de Brasília, 1999.
A obra aqui
analisada, O que o Tio Sam realmente quer,
não difere drasticamente de outras obras do autor, sejam seus textos ou
entrevistas concedidas. Porém, ainda que seja um livro que dá seguimento a
análises anteriores sobre política, economia e sociedade de eventos recentes da
história mundial – principalmente no que concerne aos Estados Unidos –, é uma
obra muito direta, disposta a analisar aspectos pontuais e cuja linha de
raciocínio é muito coesa. Arriscaria dizer que este é um dos melhores livros
para aqueles que não conhecem Chomsky e suas sagazes críticas políticas e
sociais, principalmente aos Estados Unidos.
Logo de cara,
Chomsky inicia seu texto explicitando os objetivos da política externa dos
Estados Unidos, desenvolvida sobre a insegurança constante e argumentos
descabidos sobre proteção do território, tomando a Segunda Guerra Mundial como
divisor de águas por ser após o conflito que tais políticas se intensificaram
com força, mais precisamente por conta da dita “Guerra Fria”. Um período onde
cerca de 50% da riqueza mundial estava sob controle dos Estados Unidos, além
dos dois lados do oceano, um controle sem precedentes na história mundial,
segundo o autor.
Nesse mesmo
contexto percebe-se a necessidade de se intensificar a pressão sobre a União
Soviética a fim de minar o país e controlar a sucessão do governo soviético.
Chomsky defende no decorrer de todo o livro que o principal objetivo dos Estados
Unidos em derrubar os soviéticos, atacar regiões supostamente inexpressivas
como o Laos, Vietnã do Sul, Nicarágua e outros não se dá apenas por localização
estratégia ou recursos – por vezes nenhum desses elementos faz parte da
equação. O grande objetivo por trás dessas ações é a supressão de exemplos: na
maior parte desses locais, governos realmente democráticos – ao contrário do
governo dos EUA – desenvolviam-se de forma vigorosa, sob aval popular e, por
vezes, com caráter nacionalista, fechado à intervenção do capital externo. Tais
exemplos, se bem sucedidos, poderiam influenciar outros países, ou mesmo
camadas populares nos EUA, o que seria inadmissível.
Eis o motivo
pelo qual Chomsky defende que os Estados Unidos, se não conseguiram atingir
todos os objetivos com a Guerra do Vietnã, pelo menos saíram vitoriosos. O país
foi destruído, milhares de camponeses foram mortos, os efeitos do Agente
Laranja e outras armas químicas e biológicas são sentidos até hoje e,
principalmente, a economia do país foi arrasada, fazendo com que um
desenvolvimento adequado nos moldes anteriores a Guerra seja uma realidade
pouco plausível, pelo menos nas próximas décadas.
O livro foi
lançado na década de 1990, portanto, não inclui debates a respeito da postura
dos Estados Unidos a partir dos atentados ao World Trade Center. Contudo, é muito claro para o leitor que as
atitudes de perfil imperialista dos EUA estão longe de serem inéditas, e a
forma como elas são desenvolvidas não mudou em sua essência: interferência
direta na política de países onde há movimentação considerada subversiva
(sentimos isso na pele com a ditadura militar, citada no livro como
responsável pelo estado de miséria em
que o Brasil se encontrava ao fim do regime), invasão de inimigos indefesos,
pressão para a abertura do país para o capital estrangeiro, morte de civis,
crimes de guerra entre diversos outros abusos; estes, aliás, não são poupados
neste livro, que cita com detalhes a violência de grupos paramilitares na
América Latina, como os Contra e o Batalhão
Atlacatl. Chomsky mostra também como ditadores brutais (Somoza, Saddam Hussein,
Suharto) são apoiados na tomada do poder em seus países por parte dos EUA e
cuja permanência é apoiada, desde que atendam aos interesses da grande potência
bélica mundial.
Como de praxe,
Chomsky apresenta suas ideias de como devemos lidar com esse tipo de situação;
em outras palavras, o que fazer. Embora ele fale, principalmente, ao leitor dos
Estados Unidos, seus exemplos são universais. O fato de tais ideias se repetirem
em diferentes trabalhos mostra a obstinação do autor nesse sentido. Conforme
seus livros são lançados percebemos que os tópicos com os quais Chomsky
trabalha fazem parte de uma longa estrutura de política expansionista, seja no
sentido de expansão territorial ou de influência. Como dito anteriormente,
trata-se de um dos melhores livros para ser apresentado a Noam Chomsky.
Preço médio: R$ 18,00
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