RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias.
12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
Sendo a última
parte da coleção Introdução à história de
nosso tempo, O século XX é
exatamente que se propõe a ser. Uma introdução à história do século XX, ou ao
menos parte dele; assim como Hobsbawn e tantos outros, Rémond sugere aceitar a
ideia de que o século XX se inicia, efetivamente, com a Primeira Guerra
Mundial, primeiro capítulo desta obra. O livro em questão foi lançado em 1974,
em meio à Guerra Fria (apesar do seu período de maior tensão já ter passado),
perto do fim da Guerra do Vietnã (mal é citada) e, por compreender um período
de cerca de sessenta anos, acaba dando muito destaque aos dois conflitos
mundiais.
René Rémond é
mais conhecido por seus trabalhos sobre história política, e tal preferência é
explícita neste trabalho. Sua principal característica, explícita em todos os
capítulos, é o fato de Rémond optar por trabalhar sobre causas e consequências
dos eventos que se dispõe a relatar. Os complexos meandros que precedem as duas
grandes guerras são mais dissertados dos que os próprios conflitos – o capítulo
dedicado à Segunda Guerra tem apenas cinco páginas – e suas consequências idem.
Os capítulos que
fogem um pouco – ainda que não totalmente – das duas guerras (considerando que
capítulos como “A crise nas democracias
liberais” estão totalmente ligados a elas – são dedicados ao comunismo na União
Soviética e a questões relativas a outros recortes geográficos, abarcando
períodos anteriores e posteriores aos dois conflitos. Temos um capítulo
dedicado ao mundo comunista, à descolonização (focando na África), o despertar
da Ásia (leia-se Japão, China e Índia), o despertar do mundo Árabe e a ascensão
econômica da Europa nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial; tal
recuperação deveu-se ao fato de sua economia estar totalmente devastada no
após-guerra e os Estados Unidos se tornarem a maior potência mundial, em
conflito majoritariamente ideológico com a União Soviética, que para alguns
países europeus era considerada uma ameaça, tanto militar quanto politicamente.
No mesmo
capítulo, Rémond se justifica sobre ter optado por, no decorrer do livro,
relatar os eventos escolhidos do século XX pautando-se pela história da Europa,
ou da intervenção européia em outros países. O autor afirma que não julga ser a
história européia a única que merece ser estudada ou que os demais povos não
têm história – um paradigma há muito ultrapassado por qualquer historiador
minimamente sério. Sua opção dá-se, segundo Rémond, porque da Europa partiram
as tentativas de unificação do mundo, exploradores, descobridores e foi a
grande exportadora de ideias e homens. Ignoremos aqui o fato de Rémond ser
filho da historiografia francesa. Uma postura assumidamente eurocêntrica, ainda
que não comprometa a validade da obra.
A conclusão do
livro se dedica a pensar em fatores que poderiam ser motivo de união ou
fragmentação do mundo, inferindo esperanças de maior união, não apenas
politicamente, mas linguística e culturalmente, mas ao mesmo tempo apresentando
obstáculos habituais.
A obra de Rémond
é uma introdução excelente para diversos dos temas que trata, mas ao mesmo
tempo, corre risco de ser interpretada como determinista. O apego que o autor
tem pelo eixo “causas e consequências” é extremo, e ele segue uma análise
cronológica de eventos que, confluídos, contribuíram para o panorama que
culminou nos eventos aventados – as grandes guerras, revolução russa,
revoluções no Oriente Médio, etc.
Ainda assim,
mais do que compreender eventos cujo panorama político foi determinante,
compreendemos a importância das diferentes ideologias na formação do mundo
contemporâneo. Além disso, é possível compreender como os conflitos do século
XX e a ampliação do acesso à informação fizeram com que os povos desenvolvessem consciência sobre o pertencimento a um mundo complexo, porém, bem delimitado, não aquele
mundo abstratamente gigantesco e desconhecido de outrora; dessa forma, as
distâncias oriundas do desconhecimento do outro, aos poucos, se dissipam,
embora por vezes elas ressurjam.
Uma excelente
leitura introdutória para compreender não apenas os cerca de sessenta anos que
o livro trata, mas também para compreender elementos posteriores. Contudo,
outras leituras mais abrangentes que aprofundem as questões do livro, e mesmo
de recortes geográficos que o livro deixa em segundo plano ou ignora, são
necessárias.
Preço médio: R$ 20,00
LEIA TAMBÉM, COM CAPÍTULO DO MESMO AUTOR:
Questões sobre a história do presente
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