Chegamos à segunda parte do artigo "Imperialismo, militarismo & propaganda nos Estados Unidos". Esta parte se dedica a discutir como a mídia estadunidense foi fundamental para o crescimento do militarismo nos EUA e este, consequentemente, foi fundamental para a expansão imperial do país pelo globo.
PARTE 2
O “REBANHO ASSUSTADO”: DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL AO FIM DA GUERRA FRIA
Walter Lippmann |
A expressão
“fabricação do consenso” é atribuída a Walter Lippmann, jornalista que, durante
a década de 1920, teria sido “o decano dos jornalistas americanos, um dos
principais críticos das políticas interna e externa e também um destacado
teórico da democracia liberal”.[1]
Este teria teorizado a respeito de como a propaganda era uma ferramenta
fundamental no desenvolvimento de um consenso público que endossasse a
determinados interesses. Noam Chomsky trabalha esse conceito, por vezes
sozinho, em outras em conjunto com outros pesquisadores como Edward S. Herman,
e discute a respeito do que ele chama de “rebanho assustado”, um conceito
interessante para se discutir o papel da mídia na sociedade.
Em
Controle da Mídia: os espetacularesfeitos da propaganda, o autor discute – e isso é importante para a compreensão
desta ideia de “rebanho assustado” – que existem duas definições do que seria,
de fato, a democracia. A primeira delas afirma que “uma sociedade democrática é
aquela em que o público tem meios de participar de maneira significativa na
condução de seus próprios interesses e os meios de informação são abertos e
livres”,[2]
definição semelhante a que seria encontrada nos dicionários. Chomsky continua:
Outra concepção
de democracia é aquela na qual o público deve ser barrado da administração de
seus interesses e os meios de informação devem ser mantidos estreita e
rigidamente sob controle. Pode parecer uma estranha concepção de democracia mas
é importante compreender que é a predominante.[3]
Lippmann
defendia que um grupo de pessoas politicamente esclarecidas deveria tomar as
decisões pelo povo, pois “os interesses comuns confundem completamente a
opinião pública” e só poderiam ser compreendidos e administrados por uma
“classe especializada” de “pessoas responsáveis” gabaritadas para tal tarefa.[4]
Ele [Lippmann]
argumentava que uma democracia que funciona corretamente tem várias classes de
cidadãos. Em primeiro lugar, a classe dos cidadãos que têm algum papel ativo na
condução dos assuntos gerais. É a classe especializada. Ela é formada por
pessoas que analisam, executam, tomam decisões e conduzem as coisas no sistema
político, econômico e ideológico. É uma pequena porcentagem da população.
Naturalmente, quem desenvolve tais ideias sempre se inclui nesse pequeno grupo
e decide o que fazer a respeito de todos
os outros.[5]
Conforme Chomsky,
nessa divisão de classes, as funções estariam divididas entre, basicamente,
essa “classe especializada” e o “rebanho assustado”, cuja função dentro desta
noção de democracia predominante é a de ser espectador e dar suporte àqueles
que se colocam a sua disposição para administrar a sociedade, por serem
ignorantes demais para saber o que é melhor para si mesmos.
Fica claro o
posicionamento de Chomsky contra a democracia representativa na qual não apenas
os Estados Unidos, mas grande parte do mundo se encontra. O autor defende seus
posicionamentos anarquistas com afinco, e não é diferente nesta análise.
Independente de concordância ou não com seus posicionamentos políticos, seus
argumentos a respeito da forma como a democracia é ditada na sociedade
estadunidense são sólidos, e a progressão do papel da mídia no decorrer do
século XX apenas fez reforçar a importância para essa suposta democracia
vigente da “fabricação do consenso”.
A mídia durante as
grandes guerras mundiais
A Primeira Guerra
Mundial surgiu à revelia de quaisquer atitudes militaristas por parte do
governo e das elites dos Estados Unidos, mas estes souberam, melhor do que
ninguém, tirar proveito do conflito que devastou grande parte da Europa. A
guerra ofereceu a oportunidade de estabilizar a economia do país e, diante da
propaganda militarista, amenizar a pressão de conflitos sociais internos.
"Eu quero você para o Exército dos Estados
Unidos", famoso pôster de recrutamentomilitar da Primeira Guerra Mundial. |
Durante a campanha de
Woodrow Wilson, a plataforma “Paz sem vitória” foi o mote defendido pelo futuro
presidente, eleito em 1916 em meio à guerra. A população, ou ao menos sua
maioria, era pacifista e não tinha interesse em participar de uma guerra que
não era sua. Contudo, tempo após sua eleição, foi criado um comitê de
propaganda governamental – o Comitê de Informação Pública, conhecido como
“Comissão Creel” –, que em seis meses, “conseguiu [...] transformar uma
população pacifista em histéricos beligerantes, determinados a destruir tudo o
que fosse germânico, esquartejar alemães, ir à guerra e salvar o mundo”.[6]
Nesse momento o
Estado assumiu poderes econômicos e sociais elevados, sob instituição de novos
impostos, criação de órgãos centralizados responsáveis pela organização da
produção e distribuição, além de regularem a indústria voltada para a guerra. A
linguagem referente ao ‘nacionalismo’, à ‘democracia’ e à ‘liberdade’ era uma
constante na vida cotidiana, e apenas as alas radicais do movimento sindical e
socialista se posicionaram, coletivamente falando, contra a participação do
país na guerra. Como resultado dessa propaganda, esse suposto nacionalismo e
patriotismo tiveram papel crucial na repressão às greves gerais que tomaram
conta entre 1918 e 1919.[7]
“O Espionage Act (Lei de Espionagem),
de 1918, restringiu a liberdade de expressão, censurou jornais, e proibiu
qualquer atividade contrária aos objetivos do governo na guerra”.[8]
Nada mais democrático.
A Primeira Guerra
Mundial teve como consequência solidificar as bases ideológicas do imperialismo
estadunidense, mas coube à Segunda Guerra Mundial alavancar seu militarismo.[9]
Nunca um conflito na
história dos Estados Unidos teve o mesmo consenso popular, em quantidade,
quanto a Segunda Guerra Mundial, e nunca mais viria a ter. Até mesmo o Partido
Comunista passou a apoiar a intervenção estadunidense quando a União Soviética
foi invadida pelas forças nazistas; uma guerra que colocou fim à Depressão,
praticamente erradicou o desemprego, dobrou o PIB do país e deu trabalho a
milhares de mulheres, negros e imigrantes.[10]
Apesar
da retórica antinazista e antifascista que pautou a propaganda, dando ênfase à
libertação de povos oprimidos, apenas o conflito entre os impérios do Pacífico
garantiu a entrada dos Estados Unidos no conflito. Como afirma Sean Purdy,
A invasão
italiana da Etiópia (em 1935), a Guerra Civil Espanhola (de 1936 a 1939), na qual
cidadãos americanos foram proibidos por seu governo de lutar no lado
republicano, a tomada da Áustria (em 1938) e as invasões da Polônia e da
Tchecoslováquia por Hitler (em 1939) – nenhum desses eventos provocou a entrada
dos Estados Unidos na guerra.[11]
Apenas o conflito de
interesses sobre as zonas de influência de Japão e Estados Unidos no Pacífico
fez com que a participação do segundo se concretizasse, mais precisamente após
o ataque surpresa à base de Pearl Harbor, principal base naval dos Estados
Unidos no momento.
"Vinguem Pearl Harbor: nossas balas farão isso" Poster de propaganda da Segunda Guerra Mundial |
Apesar disso, sabe-se
que o governo Roosevelt estava se preparando para a guerra havia pelo menos
três anos, embora houvesse resistência de alguns elementos das elites
econômicas. Foi preciso que um ataque formal fosse realizado para que os ânimos
belicistas fossem avivados, culminando em uma intensa propaganda em benefício
de uma intervenção militar no conflito. Até então, alguns eminentes
estadunidenses como Henry Ford, Charles Lindbergh e o embaixador dos Estados Unidos
na Inglaterra, Joseph Kennedy, pai de John F. Kennedy, se mostraram abertamente
simpáticos a aspectos do regime nazista.[12]
E essa simpatia, de
forma não tão clara assim, se expandia para outros estadunidenses politicamente
influentes, no momento ou futuramente. Um número inexato de criminosos de
guerra foi recrutado pelos Estados Unidos – a despeito de toda retórica
antinazista – para trabalhar para o serviço secreto de inteligência do país. O
exemplo mais célebre foi o recrutamento de Klaus Barbie, oficial da SS que
havia sido chefe da Gestapo em Lyon, na França, onde recebeu o carinhoso apelido
de “Açougueiro de Lyon”. Quando este foi levado à França para julgamento, em
1982, o coronel Engene Kolb, do corpo de contra-espionagem estadunidense,
afirmou que “as ‘habilidades’ [de Barbie] eram um mal necessário”.[13]
A “febre patriótica”
– termo usado por Sean Purdy – após o ataque contra Pearl Harbor era intensa.
“Milhões de jovens, homens e mulheres alistaram-se nas Forças Armadas [...] e a
população aceitou com certa docilidade o racionamento de comida e produtos
essenciais”.[14] As “quatro liberdades”
expressadas por Roosevelt – expressão, religião, segurança econômica e
democracia – eram consideradas pilares do esforço militar, a despeito de
perseguições aos dissidentes contrários à guerra, contrariando qualquer ideia
de liberdade de expressão e democracia; em 1942, o Escritório de Informação de
guerra é fundado, e este lança uma campanha massiva de propaganda, empregando
imprensa, rádio, cinema e demais mídias para incitar a mobilização, militar ou
econômica. A cultura da mídia em geral aderiu aos esforços, e mesmo Stalin, o
“Tio Joe”, era um ícone popular nos quadrinhos e em Hollywood.[15]
Os incentivos aos investimentos privados contribuíram para que a concentração
de renda nas mãos de elites se acentuasse.
As conveniências e
contradições – ou hipocrisias, se preferir – da propaganda estadunidense
estiveram relacionadas, também, com a polêmica do holocausto. Tanto os Estados
Unidos quanto outros países se recusaram a receber imigrantes judeus que fugiam
do regime nazista, para não citar sindicalistas, socialistas, deficientes
físicos, ciganos, gays, lésbicas, entre outros que eram perseguidos pelos
nazistas e eliminados brutalmente em grande parte dos casos. Mesmo quando
fortes evidências do extermínio em massa perpetrado pelos nazistas apareceram,
a mídia e o governo estadunidense praticamente ignoraram a informação, um
indicativo do anti-semitismo existente no momento.[16]
Também não houve protestos diante da intensa perseguição aos estadunidenses de
origem nipônica, sendo que cerca de 110 mil deles, que viviam na Costa Oeste
foram levados para campos de prisioneiros, privados de seus ‘direitos
democráticos’.[17]
Intervencionismo e
invasão: Coréia, Vietnã e América Latina
Mais do que trazer
benefícios econômicos internos, a Segunda Guerra Mundial promoveu a derrocada
das rivais industriais dos Estados Unidos. Graças a ela, o país se tornou
detentor de cerca de 50% das riquezas mundiais e controlava os dois lados do
oceano; “Nunca houve um período na história em que uma nação tenha tido um
controle e uma segurança do mundo tão esmagadores”, argumenta Chomsky a
respeito desse período, e não sem razão.[18]
O povo desejava a desmobilização do exército, mas o governo tinha outros
planos.
O período de relativa
paz não durou muito. Em pouco tempo, a suposta ameaça da Guerra Fria, na
corrida econômica e armamentista das duas grandes potências do período – EUA e
União Soviética – se mostrou próxima da onipresença na cultura da mídia do
país, resultando não apenas no não cumprimento do desejo popular de
desmobilização militar, mas também o início do “império de bases”
estadunidense, como Chalmers Johnson o classifica. Dessa forma, se criou o
“maior contingente militar já mantido pelos Estados Unidos em tempos de paz”.[19]
Os interesses
imperialistas do governo estadunidense precisavam de apoio popular constante,
como fora até então nos demais conflitos em que o país esteve envolvido, e a
suposta ameaça comunista foi a desculpa perfeita para que, durante quase
cinquenta anos, a mobilização militar fosse constante e o intervencionismo ao
redor do globo aumentasse vertiginosamente. Como se não bastasse o aumento do
orçamento militar, questões de seguridade social foram não apenas ignoradas,
como hostilizadas ideologicamente, como as tentativas de se emplacar um plano
de saúde nacional e habitações públicas, derrubadas no Congresso sob a falácia
de serem agendas socialistas.[20]
Em
todas as análises das intervenções estadunidenses ao redor do globo durante a
Guerra Fria, Noam Chomsky pontua que o principal objetivo do país é manter um status quo político e econômico no
mundo, onde os Estados Unidos sejam a liderança proeminente. As intervenções na
Coreia, no Sudeste Asiático e América Latina, por exemplo, tinham como objetivo
suprimir governos cujas políticas tivessem inclinação ao bem-estar interno de
seus habitantes, ou mesmo – e principalmente – governos de inspiração comunista,
ainda que as duas coisas fossem vistas como uma só pelos ideólogos
estadunidenses. O que o autor argumenta, por exemplo, no decorrer de O que o Tio Sam realmente quer – ainda
que o faça em diversas outras obras suas – é demonstrar como estes países,
mesmo sendo economicamente e militarmente insignificantes em relação aos
Estados Unidos, poderiam prosperar individualmente voltados para o mercado
interno e, assim, dar um mal exemplo a outras nações que poderiam seguir o
mesmo caminho. Todo exemplo bem sucedido de governo e economia opostos ao
capitalismo e a ‘democracia’ dos Estados Unidos deveriam ser eliminados, para
não influenciarem outros locais.[21]
Sobre as supostas ameaças à hegemonia dos EUA vindas do resto do mundo, Johnson
afirma:
Ensinamos terrorismo de Estado a milhares de
militares ou policiais latino-americanos na Escola das Américas, mantida pelo
exército em Fort Benning ,
na Geórgia. Temos utilizado a CIA e o Fundo Monetário Internacional para
efetuar “mudanças de regimes” mediante golpes de Estado, assassinatos políticos
ou desestabilização econômica, sem falar que bombardeamos ou invadimos países
que condenaram nossa hegemonia ou se opuseram a ela. As vítimas civis dessas
operações típicas de Guerra Fria foram numerosas.[22]
E nesse sentido, a
cultura da mídia estadunidense em geral foi muito participativa na defesa dos
interesses do governo e de seus militares.
Antes do conflito
conhecido como Guerra da Coreia, os Estados Unidos intervieram na região,
dissolvendo o governo popular local, composto majoritariamente por
antifascistas que lutaram contra os abusos do exército japonês durante a
Segunda Guerra. Fazendo uso da polícia fascista japonesa e de coreanos que
compactuaram com o Japão durante a invasão, a intervenção foi responsável pela
morte de cerca de cem mil pessoas.[23]
"Você está atravessando agora o paralelo 38". O paralelo 38 foi tomado como linha divisória entre as duas coreias, e acabou por ajudar a definir a divisão como esta se encontra hoje. |
Já a Guerra da Coreia
se iniciou com a intervenção em 1950, onde o governo dos Estados Unidos ajudou
o ditador da parte sul do país, que no momento estava dividido, após esta ter
sido invadida pelas tropas do ditador da parte Norte; este último possuía
inspirações comunistas e era apoiado pela União Soviética. Dispostos a não
permitir que o ditador do norte saísse vitorioso, o governo aumentou
significativamente os gastos com armamentos e, como afirma Johnson, com o
desenvolvimento de armamentos nucleares e bases ao redor do mundo: “Os gastos
com defesa nacional elevaram-se de 150 bilhões de dólares em 1950 (calculados
segundo o poder de compra da moeda em 2002) para quase 500 bilhões em 1953” .[24]
O
mesmo pode-se dizer do caso do Vietnã. No início, ao contrário do que muito se
diz, não houve grande resistência ao conflito. Em geral, se acreditava em
declarações como as de Adlai Stevenson (e outros) quando estes diziam que os
EUA estavam “defendendo o Vietnã do Sul contra a agressão interna”, ou em
termos mais realistas, cometendo atos de agressão deliberada à população
sul-vietnamita.[25] Sobre o fato de que no
começo houve pouca resistência por parte da população estadunidense à guerra,
Noam Chomsky diz:
Em 1962,
anunciou-se que aviões militares norte-americanos estavam bombardeando o sul do
Vietnã, e não houve protestos. Os Estados Unidos usaram guerra química para
destruir cultivos de alimentos e impelir milhões de pessoas para “aldeias
estratégicas” – essencialmente, campos de concentração. Tudo isso foi
publicado, mas não houve protestos; era impossível fazer com que alguém se
manifestasse a respeito. Mesmo numa cidade liberal como Boston, não era
possível realizar reuniões públicas sobre a guerra porque os estudantes as
impediam, com apoio da mídia. [...] Os protestos somente aconteceram depois de
muitos anos de guerra. Nessa altura, centenas de milhares de pessoas haviam
sido mortas e grande parte do Vietnã fora destruída.[26]
Apenas após algum
tempo de conflito a cultura da mídia passou a fazer uso da crítica à guerra em
seus produtos, embora produções de caráter belicista continuassem em voga, num
conflito de contradições políticas e ideológicas comum em praticamente qualquer
contexto. De acordo com Kellner, “a sociedade é um grande campo de batalha, e
que essas lutas heterogêneas se consumam nas telas e nos textos da cultura da
mídia e constituem o terreno apropriado para um estudo crítico da cultura da
mídia”.[27]
Chomsky vai mais além
a respeito do conflito no Vietnã; ele afirma ser um dos poucos pesquisadores
que argumenta ter tido os Estados Unidos uma vitória estratégica no Vietnã,
apesar de não ter sido uma vitória completa. Para o autor, o principal objetivo
do país na Indochina foi atingido: o Vietnã foi destruído, e não havia chance
de um bem-sucedido exemplo de desenvolvimento econômico surgir daquele país. A
ameaça do mal exemplo estava erradicada.[28]
Guerra do Vietnã |
Mas não era o único
exemplo a ser erradicado. Perguntado em 1961 por um jornalista sobre a
intervenção crescente no Vietnã, Bobby Kennedy, secretário de Justiça do
governo de John F. Kennedy – seu irmão –, este respondeu: “Nós temos 30
Vietnãs”.[29] E, de fato, a influência
dos EUA no resto do mundo em países supostamente perigosos, do ponto de vista
ideológico e/ou econômico era crescente. Quanto à propagação de ideias
perigosas em outras partes do mundo, além do Vietnã, os Estados Unidos
“evitaram também sua propagação, apoiando a tomada de poder na Indonésia por
Suharto, em 1965, promovendo a queda da democracia nas Filipinas por Ferdinando
Marcos, em 1972, e apoiando a lei marcial na Coreia do Sul e na Tailândia”.[30]
Além destas, podemos citar a derrubada de governos parlamentaristas, com apoio
ou intervenção direta, no Irã, em 1953, na Guatemala, em 1954 e 1963, no Congo
em 1963, na República Dominicana, em 1963 e 1965, no Brasil, em 1964, no Chile,
em 1973, no Uruguai em 1974, na Argentina em 1976, entre outros.[31]
Na
América Latina, a influência dos EUA foi especialmente brutal, como afirma
Chomsky:
O que as forças
contra-insurgentes americanas fizeram com a Nicarágua, ou o que os nossos substitutos
terroristas fazem em El
Salvador ou na Guatemala, não é apenas matança comum, o
principal componente é a tortura brutal e sádica, batendo bebês contra pedras,
pendurando mulheres pelos pés, com os seios cortados, a pele do rosto
escalpelada, para sangrarem até a morte, ou cortando a cabeça de pessoas,
colocando-as em estacas.[32]
Boa parte das maiores
atrocidades cometidas na região tiveram lugar durante os anos 1980 e o governo
de Ronald Reagan, período onde filmes de “volta ao Vietnã”, nas palavras de
Douglas Kellner, fizeram muito sucesso, ou mesmo outros exemplares de filmes
que tinha alguma inclinação favorável à guerra, e onde os supostos inimigos
externos eram representados como vilões. “Hollywood alimentava essa mentalidade
militarista e punha à disposição representações culturais que mobilizavam apoio
a tal política de agressão”, argumenta Kellner.[33]
A paranóia
militarista, sempre reiterada por essa cultura da mídia com o objetivo de
manter uma possibilidade constante de mobilização, teve um grande impulso entre
o fim da década de 1980 e início da de 1990, no momento de transição entre o
Governo Reagan – fortemente anticomunista e cuja dívida com os gastos militares
chegou a US$ 2,6 trilhões em 1988[34]
– para o governo de George Bush pai, e no contexto do conflito que é conhecido
como Guerra do Golfo, ou Primeira Guerra do Golfo, se levarmos em consideração
a guerra contra o Iraque a partir de 2002.
[1] CHOMSKY, Noam. Controle da mídia: os espetaculares
feitos da propaganda. Rio de Janeiro: Graphia, 2003, p. 14.
[2] Ibid, p. 9.
[3] Ibid., p. 9-10
[4] Ibid., p. 15.
[5] Ibid., p. 16.
[6] Ibid., p. 11.
[7] KARNAL, Leandro et
al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2010,
p. 194.
[8] Idem.
[9] Por uma questão de espaço,
deixarei de lado uma discussão aprofundada sobre o contexto entre as duas
guerras, que possui importância histórica fundamental. Os picos de elevação na
economia estadunidense e suas posteriores crises foram cruciais para o
desenvolvimento dos acontecimentos, bem como diversos outros fatores sociais
como a repressão baseada em classe, nacionalidade, etnia, etc., além do
contexto internacional. A base material é fundamental para a compreensão deste
panorama, e para tal, deixo a nível de recomendação o já citado História dos Estados Unidos, de Leandro
Karnal et. al. e: RÉMOND, René. O
século XX: de 1914 aos nossos dias. 12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
[11] Ibid., p. 218.
[12] Ibid., p. 219.
[13] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999, p. 23.
[15] Ibid., p. 223.
[17] Ibid., p. 225.
[20] KARNAL, Leandro et
al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2010,
p. 227.
[21] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999.
[22] JOHNSON, Chalmers. As aflições do império. Rio de Janeiro:
Record, 2007, p. 83.
[23] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer, Op.
Cit., p. 22.
[24] JOHNSON, Chalmers. As aflições do império, Op. Cit., p.
70.
[25] CHOMSKY, Noam. Ambições imperiais. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2006, p. 113.
[26] Ibid., p. 43-44.
[27] KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: estudos culturais:
identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001, p.
79.
[28] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer, Op.
Cit., p. 76.
[29] KARNAL, Leandro et
al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2010,
p. 238.
[30] CHOMSKY, Noam.. O que o Tio Sam realmente quer, Op. Cit.,
p. 74. KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos, Op. cit, p. 242.
[31] CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília:
Editora da Universidade de Brasília, 1999, p. 27.
[32] Ibid., p. 27-28.
[33] KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: estudos culturais:
identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001, p.
104.
[34] KARNAL, Leandro et
al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2010,
p. 270.