LEWIS, Bernard. Os assassinos: os primórdios do
terrorismo no islã. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
A “Seita dos assassinos” é um tema que atrai a curiosidade de alguns historiadores e mesmo entusiastas, tendo ainda mais apelo na cultura pop após o lançamento do jogo eletrônico Assassin’s Creed, da empresa de origem francesa Ubisoft. Nele, o jogador controla o personagem Altaïr ibn-La'Ahad, pertencente a ordem dos assassinos. O jogo em questão fez grande sucesso e abriu um precedente para o interesse por parte de algumas pessoas no que teria dado origem ao jogo, no que tange a seu fundo de cunho histórico. Talvez a melhor obra de iniciação ao tema seja o livro em questão, escrito por Bernard Lewis, que no Brasil leva o subtítulo de “os primórdios do terrorismo no islã”.
A “Seita dos assassinos” é um tema que atrai a curiosidade de alguns historiadores e mesmo entusiastas, tendo ainda mais apelo na cultura pop após o lançamento do jogo eletrônico Assassin’s Creed, da empresa de origem francesa Ubisoft. Nele, o jogador controla o personagem Altaïr ibn-La'Ahad, pertencente a ordem dos assassinos. O jogo em questão fez grande sucesso e abriu um precedente para o interesse por parte de algumas pessoas no que teria dado origem ao jogo, no que tange a seu fundo de cunho histórico. Talvez a melhor obra de iniciação ao tema seja o livro em questão, escrito por Bernard Lewis, que no Brasil leva o subtítulo de “os primórdios do terrorismo no islã”.
Após resumir a história da seita dos assassinos, dissertando acerca dos melhores trabalhos a respeito do tema com o passar dos séculos, Lewis se preocupa em situar o leitor na complexa história do Islamismo posterior à morte de Maomé, de forma sucinta, mas suficiente. Para a compreensão do todo, algo que é vital para o entendimento da seita é a separação entre os xiitas e os sunitas, sendo o primeiro grupo formado inicialmente pelos descontentes com a sucessão de Maomé por Abu Bacr, um conhecido converso, defendendo a sucessão por parte de Ali, sobrinho e genro do profeta. Este ascendeu ao poder em 656, mas foi assassinado em 661. Após isto, o grupo dos Xi’a começou a adquirir um caráter cada vez mais messiânico, permitindo que, cada vez mais, política e religião se mesclassem, em uma região onde essa associação tinha lugar comum.
Nesse contexto, a figura do imame – uma espécie de líder espiritual com poderes de cura, portador da verdade e outras características pretensamente divinas – tinha uma importância elevada, e as intensas divergências acerca de direitos de sucessão fizeram com que um grupo de descontentes, seguidores de um possível imame chamado Isma’il fosse o grupo responsável pelo surgimento da seita dos assassinos, conhecidos então, por suas crenças, como ismaelitas.
Isso explica claramente o motivo de a seita dos assassinos – surgida na Pérsia com ramificações na Síria, por vezes mais conhecidas do que as da Pérsia – ter se ocupado quase que integralmente ao assassínio de outros muçulmanos, principalmente os sunitas. Lendas sobre a seita abundaram, inclusive na Europa, por terem os assassinos tido prováveis ligações com europeus, e até mesmo matando em favor dos estrangeiros.
Como seita e grupo, a principal diferença dos ismaelitas para outras seitas e grupos foi o fato de ela ter sido a primeira a ter uma organização eficiente e duradoura. Segundo praticamente todas as fontes sobre o assunto, os assassinos eram servos fiéis de seu senhor, infiltrando-se no território inimigo, fazendo papel de servo deste até que uma hora propícia se revelasse. Não havia envenenamento, uso de armas de arremesso ou algo do tipo; simplesmente sua adaga bastava. Era recorrente o discurso de que para o assassino era glorioso ser morto, ou mesmo se matar, após cometer o crime.
A própria palavra “assassino” possui uma origem controversa; sua origem gera desacordos, a despeito de ser comumente associada ao nome original do haxixe – supostamente empregado pelo líder e fundador da seita, Hasã-I Sabá, para em conjunto com jardins, mulheres e demais prazeres, dar uma amostra do paraíso que aguardaria àqueles que morrem pela causa.
Lewis discorre sobre o sucesso da seita na Pérsia, principalmente a partir do quase impenetrável castelo de Alamut, onde Hasã-I Sabá residia, e onde seus sucessores, em geral, viveram, apesar dos demais castelos nas montanhas que pertenciam à ordem. Depois, parte para os assassinos que migraram para a Síria, afirmando não serem muitas as fontes sobre estes, exceto alguns registros de assassinatos cometidos por estes. Percebe-se que na Síria, território mais hostil e de difícil penetração cultural e religiosa – já que o ismaelismo era, apesar de tudo, uma seita estrangeira – sua inserção foi muito mais difícil, e sua eliminação mais eficaz. A despeito do medo que causavam aos seus adversários e da eficácia com que fizeram valer sua vontade em muitos períodos, os assassinos foram derrubados; pequenas sublevações posteriores faziam eco à seita, mas sem que houvesse uma ligação realmente concisa.
Desde modo, ainda que possa fazer algum sentido num primeiro momento, a assertiva de que os assassinos foram predecessores dos terroristas modernos é precipitada e soa anacrônica. Bernard Lewis tem um histórico de obras que tratam o Oriente Médio como uma região atrasada, em crise e que, como afirma um dos títulos de sua autoria, deu errado. O subtítulo original a radical sect in islam (uma seita radical no islã), no entanto, soa menos generalista e menos anacrônico do que outros que o livro recebeu pelo mundo – incluindo o subtítulo brasileiro.
Apesar deste detalhe, o livro merece todos os méritos, por ser uma obra concisa, mas certamente muito relevante. A pouca familiaridade do público brasileiro com nomes de origem árabe e semelhantes pode causar confusão quanto à citação tanto de líderes da seita como outros governantes e personagens de todas essas tramas de poder e resistência, mas nada que um pouco de atenção não possa contornar. Livro obrigatório para todo o iniciante neste tema.
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