CHOMSKY, Noam. Propaganda e consciência popular. Bauru:
EDUSC, 2003.
Noam Chomsky. A
simples menção de seu nome seria suficiente para tirar qualquer conservador
estadunidense bem informado do sério, por conta de seu ativismo político e as
críticas extremamente contundentes à política de seu país, seja interna ou
externa. Sendo um dos maiores intelectuais da atualidade, professor do Massachussets
Institute of Technology, sua presença em palestras e requerimentos de
entrevistas por parte de outras pessoas são diversos. Algumas entrevistas
feitas durante sua carreira já foram compiladas em obras de grande valia sobre
os efeitos da propaganda e sua utilidade por parte do governo ou mesmo de
interesses particulares de empresas e corporações. O livro em questão, Propaganda e consciência popular, faz
parte dessa coleção de entrevistas compiladas; neste caso, por David Barsamian.
A miríade de
assuntos abordados nas sete entrevistas contidas neste livro é vasta o bastante
para que alguma resenha abarque todos eles sem se tornar desnecessariamente
extensa. Contudo, a maior parte das entrevistas – e, consequentemente, do livro
– trata de temas que circundam o título. Chomsky critica duramente a
propaganda, seja ela oficial ou mesmo por parte de uma mídia pouco informada,
ou pouco interessada em informar. Além do mais, em diversos pontos, Chomsky
aponta desigualdades no sistema, incoerência de programas governamentais,
intervencionismo estadunidense em outras partes do mundo, a necessidade do
apoio popular para a manutenção de uma guerra (e mesmo a entrada de um país
nela), entre outros.
No capítulo 1, “A
vitória dos ativistas”, o cerne da discussão está na opinião de Chomsky sobre o
fato de que as pessoas deveriam buscar fazer as perguntas óbvias – ou seja,
buscar sua “criança interior”. Sendo a criança naturalmente curiosa e desejosa
de saber e buscar suas próprias conclusões, tal atitude contestadora deveria se
manter com o passar do tempo, mas as pessoas seriam condicionadas a ouvir mais
e participar menos; o público mantendo a postura de espectador, e não
participante, por esta postura ser adequada a “homens responsáveis”.
No capítulo 2,
“Estados Unidos para o resto do mundo: saiam do caminho”, Chomsky e Barsamian
discutem o intervencionismo estadunidense agressivo e como o país ignora
quaisquer tratados, conclusões da ONU e afins para atingir seus interesses.
Discute o terrorismo dos EUA em outros países, mascarado de contraterrorismo
preventivo (a entrevista é de 1º de fevereiro de 1998, anos antes dos atentados
ao World Trade Center) e de como o país não é internacionalmente acusado por
tais crimes, tampouco sofre quaisquer sansões, por conta de seu poderio bélico.
Mais do que os atos em si, incomoda ao autor a postura acintosa dos EUA em
rejeitar quaisquer impedimentos a suas ações militares. Já no capítulo “Por
razões de estado”, a crítica é muito mais abrangente, passando desde o já
citado intervencionismo até questões como a privatização, a ausência de acesso
à saúde pública gratuita, o uso da tortura em Israel contra muçulmanos, entre
outros tópicos polêmicos.
Nos capítulos 4
e 5, questões diferentes são abordadas, novamente permeando o título da obra.
No capítulo 4, “Timor Leste à beira do abismo”, Chomsky discute,
principalmente, o violento regime ditatorial de Suharto na Indonésia, focando
na violência com a qual seu governo tratou a questão do separatismo da região
do Timor Leste, sempre com o conhecimento e apoio dos Estados Unidos. No quinto
capítulo, é discutido o encontro da Organização Mundial do Comércio, sendo esta
entrevista feira em 23 de fevereiro de 2000. A discussão se deu, principalmente, por
conta da presença massiva de muitos ativistas no evento em questão,
aproveitando o mote para se discutir a consciência popular e o ativismo.
O capítulo 6 é o
mais extenso e mais amplo, chamado “Libertando a mente das ortodoxias”. A
extensão do capítulo e a quantidade de temas discutidos é vasta para resumir,
mas basicamente, fala sobre a falsa propaganda de guerra, como por exemplo, as
“intervenções humanitárias”, que nunca são o que dizem ser, e a resistência
diante de eufemismos que objetivam mascarar ou diminuir o impacto do que, de
fato, ocorre. O último capítulo chama-se “Solidariedade”, e discute o sistema
educacional atual como um meio de se desenvolver um senso de competitividade,
onde um deve superar o outro, ao invés de desenvolver um senso de bem comum,
onde objetivos em comum devem ser atingidos por todos de forma cooperativa.
Embora a troca
de assuntos seja, por vezes, brusca e possa confundir, o livro é uma leitura
certamente muito importante quanto a conhecer a forma como a propaganda,
principalmente a serviço dos governos e grandes corporações, pode ser muito
nociva, além de discorrer muitas vezes sobre o intervencionismo, principalmente
dos Estados Unidos ou apoiado por ele, por conta de seus interesses. É uma
leitura simples e que não requer um grande conhecimento teórico prévio, já que
as questões são tratadas de forma muito clara, podendo ser compreendidas, em
sua maior parte, por praticamente qualquer tipo de leitor. Altamente
recomendado.