24 de agosto de 2012

Noam Chomsky - Propaganda e consciência popular


CHOMSKY, Noam. Propaganda e consciência popular. Bauru: EDUSC, 2003.

Noam Chomsky. A simples menção de seu nome seria suficiente para tirar qualquer conservador estadunidense bem informado do sério, por conta de seu ativismo político e as críticas extremamente contundentes à política de seu país, seja interna ou externa. Sendo um dos maiores intelectuais da atualidade, professor do Massachussets Institute of Technology, sua presença em palestras e requerimentos de entrevistas por parte de outras pessoas são diversos. Algumas entrevistas feitas durante sua carreira já foram compiladas em obras de grande valia sobre os efeitos da propaganda e sua utilidade por parte do governo ou mesmo de interesses particulares de empresas e corporações. O livro em questão, Propaganda e consciência popular, faz parte dessa coleção de entrevistas compiladas; neste caso, por David Barsamian.

A miríade de assuntos abordados nas sete entrevistas contidas neste livro é vasta o bastante para que alguma resenha abarque todos eles sem se tornar desnecessariamente extensa. Contudo, a maior parte das entrevistas – e, consequentemente, do livro – trata de temas que circundam o título. Chomsky critica duramente a propaganda, seja ela oficial ou mesmo por parte de uma mídia pouco informada, ou pouco interessada em informar. Além do mais, em diversos pontos, Chomsky aponta desigualdades no sistema, incoerência de programas governamentais, intervencionismo estadunidense em outras partes do mundo, a necessidade do apoio popular para a manutenção de uma guerra (e mesmo a entrada de um país nela), entre outros.

No capítulo 1, “A vitória dos ativistas”, o cerne da discussão está na opinião de Chomsky sobre o fato de que as pessoas deveriam buscar fazer as perguntas óbvias – ou seja, buscar sua “criança interior”. Sendo a criança naturalmente curiosa e desejosa de saber e buscar suas próprias conclusões, tal atitude contestadora deveria se manter com o passar do tempo, mas as pessoas seriam condicionadas a ouvir mais e participar menos; o público mantendo a postura de espectador, e não participante, por esta postura ser adequada a “homens responsáveis”.

No capítulo 2, “Estados Unidos para o resto do mundo: saiam do caminho”, Chomsky e Barsamian discutem o intervencionismo estadunidense agressivo e como o país ignora quaisquer tratados, conclusões da ONU e afins para atingir seus interesses. Discute o terrorismo dos EUA em outros países, mascarado de contraterrorismo preventivo (a entrevista é de 1º de fevereiro de 1998, anos antes dos atentados ao World Trade Center) e de como o país não é internacionalmente acusado por tais crimes, tampouco sofre quaisquer sansões, por conta de seu poderio bélico. Mais do que os atos em si, incomoda ao autor a postura acintosa dos EUA em rejeitar quaisquer impedimentos a suas ações militares. Já no capítulo “Por razões de estado”, a crítica é muito mais abrangente, passando desde o já citado intervencionismo até questões como a privatização, a ausência de acesso à saúde pública gratuita, o uso da tortura em Israel contra muçulmanos, entre outros tópicos polêmicos.

Nos capítulos 4 e 5, questões diferentes são abordadas, novamente permeando o título da obra. No capítulo 4, “Timor Leste à beira do abismo”, Chomsky discute, principalmente, o violento regime ditatorial de Suharto na Indonésia, focando na violência com a qual seu governo tratou a questão do separatismo da região do Timor Leste, sempre com o conhecimento e apoio dos Estados Unidos. No quinto capítulo, é discutido o encontro da Organização Mundial do Comércio, sendo esta entrevista feira em 23 de fevereiro de 2000. A discussão se deu, principalmente, por conta da presença massiva de muitos ativistas no evento em questão, aproveitando o mote para se discutir a consciência popular e o ativismo.

O capítulo 6 é o mais extenso e mais amplo, chamado “Libertando a mente das ortodoxias”. A extensão do capítulo e a quantidade de temas discutidos é vasta para resumir, mas basicamente, fala sobre a falsa propaganda de guerra, como por exemplo, as “intervenções humanitárias”, que nunca são o que dizem ser, e a resistência diante de eufemismos que objetivam mascarar ou diminuir o impacto do que, de fato, ocorre. O último capítulo chama-se “Solidariedade”, e discute o sistema educacional atual como um meio de se desenvolver um senso de competitividade, onde um deve superar o outro, ao invés de desenvolver um senso de bem comum, onde objetivos em comum devem ser atingidos por todos de forma cooperativa.

Embora a troca de assuntos seja, por vezes, brusca e possa confundir, o livro é uma leitura certamente muito importante quanto a conhecer a forma como a propaganda, principalmente a serviço dos governos e grandes corporações, pode ser muito nociva, além de discorrer muitas vezes sobre o intervencionismo, principalmente dos Estados Unidos ou apoiado por ele, por conta de seus interesses. É uma leitura simples e que não requer um grande conhecimento teórico prévio, já que as questões são tratadas de forma muito clara, podendo ser compreendidas, em sua maior parte, por praticamente qualquer tipo de leitor. Altamente recomendado.

Preço médio: R$ 57,80

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