KARNAL, Leandro et
al. História dos Estados Unidos: das
origens ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
Sendo uma nação
causadora de admiração, mas ao mesmo tempo repulsa, pelo resto do mundo, os
Estados Unidos possuem uma história intrigante, mitificada e, porque não dizer,
intervencionista. É impossível – principalmente por conta deste
intervencionismo – discordar da epígrafe da conclusão do presente livro, que
afirma: “Para o bem e para o mal, o destino do planeta está associado aos
Estados Unidos da América.”
Por conta de
seus anseios imperialistas muito claros para qualquer um que se preste a
estudar minimamente sua história, os Estados Unidos merecem uma análise
particularmente apurada; não é difícil encontrarmos centenas, senão milhares de
críticos ao país em questão, ao seu povo ou seu modo de vida – modos, se
quisermos ser mais apurados. Contudo, quando se trata de compreender as origens
de como funcionam as engrenagens que movem os Estados Unidos, não são muitos os
que demonstram algum conhecimento histórico, político, sociológico ou
antropológico realmente satisfatório, avesso ao senso comum; tanto os veículos
midiáticos que adulam o país quanto os que o criticam ferozmente por vezes
procuram menos permitir a compreensão do que doutrinar politicamente. Por conta
disso, ressalto que, quanto ao conhecimento da história dos Estados Unidos – ao
menos para o público brasileiro – o livro História
dos Estados Unidos é um interessante apanhado geral.
O livro é
dividido em três partes principais, escritas por diferentes autores. Temos a
introdução e a parte um, A formação da
nação sob responsabilidade de Leandro Karnal, professor da UNICAMP; a parte
dois, Os EUA no século XIX por Luis
Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais, até então mestres em história;
por fim, o canadense Sean Purdy, professor da USP escreve a última parte, O século americano.
O início,
destinado à colonização inglesa no litoral leste da América do Norte, faz um
interessante trabalho não apenas no que tange a informar, mas também em
problematizar algumas questões. Ganha destaque a problematização de um
senso-comum ainda existente de que o sucesso dos Estados Unidos, em contraste
com o suposto “fracasso brasileiro” se daria pelas diferentes formas de
colonização, pois nos EUA, ela teria sido de povoamento e no Brasil, de
exploração. Leando Karnal demonstra facilmente o quanto esta ideia não tem
fundamentos sólidos para se manter de pé. Ademais, o autor faz um bom trabalho,
inclusive discutindo questões contemporâneas sobre a visão que outros povos têm
dos Estados Unidos e vice-versa, mas a meu ver, em alguns momentos demonstrou
estar em sintonia com trabalhos mais tradicionais e, infelizmente, ainda
contaminados por muitos dos mitos de elevação nacional do século XIX sobre a revolução.
Um outro ponto a
ser levado em consideração é a discussão sobre a nacionalidade: é pontuado que
o termo “estadunidense” possui uma conotação nacionalista por parte dos países
que não se sentem contemplados quando os EUA se classificam como “Americanos”.
Um sentimento justo, que por si só já é suficiente para tornar questionável a
adoção do termo “americano”. Não se trata apenas de uma barreira linguística –
pela enorme dificuldade de se encontrar um termo equivalente a estadunidense na língua inglesa –, mas
também cultural, e nesse sentido já muito solidificada tanto nos EUA como para
boa parte da população mundial, bombardeada pela indústria do entretenimento
estadunidense.
As duas partes
posteriores, no entanto, adotam posturas mais críticas, principalmente a última
parte. Nela, o intervencionismo estadunidense constante no século XX em várias
partes do mundo, os males da propaganda mentirosa, a participação dos EUA na
Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã, entre outras coisas, são levantados
durante todo o tempo e mostram-se a melhor parte do livro, ainda que bastante
resumida.
Ademais, vale dizer que o livro é ricamente ilustrado (nem todas as imagens em qualidade razoável, mas nada que comprometa o conteúdo) e sua leitura é muito tranquila, sem causar grande desgaste ou dificuldade de compreensão pela inserção de termos mais complicados. É uma leitura extremamente acessível.
Para qualquer um
que se interesse em se aprofundar na história dos Estados Unidos – tema
recomendado e que se mantém relevante, principalmente no que tange à política
externa –, este livro é um ótimo começo, principalmente se for complementado
por obras que foquem em aspectos mais específicos (algumas, inclusive, já
resenhadas neste blog).
Preço médio: R$ 39,90