Tendo sido publicado em 2005 na Espanha sob o mesmo título, no equivalente espanhol, esta obra foi escrita pelo jornalista Santiago Camacho. Famoso por uma enorme gama de artigos e reportagens controversas e cheias de denúncia, costuma focar ser trabalho em questões polêmicas, como serviços de inteligências e teorias de conspiração. Por si só esses argumentos seriam suficientes para muitos lançarem olhares duvidosos sobre o trabalho do autor. Porém, a gigantesca gama de fontes apresentadas para a concepção desta obra é tamanha e colocada de forma tão ordenada que se torna difícil não render-se à compilação de tantas informações de forma tão coesa.
O livro, como o próprio autor explicita em sua introdução, não é anti-religioso. Contudo, tenta mostrar apresentando diversas fontes – que o mesmo recomenda a leitura para aprofundamento no assunto – aspectos da Santa Sé que foram durante muito tempo ocultados para a manutenção de sua imagem, abalada vez ou outra por algum escândalo.
O início do livro foca no nascimento do Vaticano como estado soberano, após a assinatura do tratado de Latrão, entre o papa Pio XI e Benito Mussolini. O duce, ateu declarado, viu que para prosperar em seus objetivos, necessitava do apoio da Igreja Católica, tão impregnada na identidade nacional italiana. Já a Igreja estava à beira da ruína, e são apresentados no livro alguns dos diversos fatores responsáveis para o declínio de uma instituição que, no passado, interveio com tanta imponência na história ocidental, tendo plenos poderes sob os mais diversos aspectos.
Sem fugir do aspecto financeiro, o livro trata de alguns dos principais responsáveis pelo ressurgimento da grandeza econômica da Igreja, como Bernardino Nogara. Segundo palavras do cardeal Spellman após seu falecimento: “Depois de Jesus Cristo, a melhor coisa que aconteceu à Igreja foi Bernardino Nogara”. Este aceitou a “gloriosa” missão de salvar as finanças do Vaticano, certificando-se, no entanto, que seus negócios deveriam estas livres de impedimentos baseados nos dogmas da Igreja. A partir de Nogara, a prática da usura deixou de ser condenada pela Igreja. Algo muito distante do que ocorria na Idade Média, onde o usurário era o pior dos condenados.
Podemos dizer, no entanto, que a parte mais chocante do livro engloba acontecimentos durante a segunda guerra mundial. Devo destacar o capítulo cinco, chamado “O outro holocausto. O Vaticano e o genocídio na Croácia”. Após a invasão dos nazistas à Iugoslávia, o Ustashi, partido católico fanático, tomou o poder do país, convertendo-o em um estado católico. Durante os quatro anos como estado independente, entre
Em seguida, após tratar a Igreja no pós-guerra, o livro lida com nomes que muito contribuíram para o enriquecimento ilícito do vaticano e seu envolvimento com a máfia italiana e a Propaganda Due, uma poderosa loja maçônica – mesmo sendo a maçonaria sempre tendo sido rechaçada pela Igreja. Entre eles, Michele Sidona, homem que foi por tempos um dos homens mais ricos do mundo. Um trecho interessante do livro fala sobre a enorme admiração que Francis Ford Coppola possuía por Michele Sidona. Este, fascinado com o glamour de Hollywood, comprou parte das ações da Paramount. E que filme dirigido por Francis Ford Coppola fora produzido pela Paramount e fez enorme sucesso, tendo se tornado um dos maiores clássicos da história do cinema? O Poderoso Chefão, financiado em parte por Sidona e mostrando uma família Corleone sob um aspecto honrado, se comparada á outras famílias mafiosas. Os verdadeiros Corleone (apelido para a família Corleonese) eram tidos como brutos e sanguinários, até mesmo para os padrões das outras famílias mafiosas da época.
Como se não bastassem os escândalos financeiros, o livro ainda trata das teorias de assassinato dos papas Pio XI e João Paulo I. Mais do que isso, aponta alguns nomes suspeitos e indícios que afirmem as teorias, tudo de forma clara e convincente. Por fim, são expostos os escândalos financeiros durante o papado de João Paulo II, as circunstâncias de seu atentado – e de sua suposta visita de perdão ao atirador – e os milhares de casos de abuso sexual e pedofilia durante o papado deste, passando para o papado de Joseph Ratzinger, ainda recente quando o livro foi terminado.
Como dito no início desta resenha, o livro é polêmico e sua credibilidade pode ser colocada em cheque por muitos, principalmente aqueles que não simpatizam com teorias conspiratórias. No entanto, o número de fontes apresentadas e a consistência das mesmas não deixam dúvidas que se tratou de um árduo trabalho, com frutos visíveis que não devem ser ignorados. Um livro que pode abalar a fé de muitas pessoas, mesmo que sua intenção não seja esta. O trecho do livro de Mateus, capítulo 15, versículo 8, parafraseado no início do livro, é claro como água nesse aspecto: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim...”.
[EDIT] O livro contém um erro. Nele, o autor aponta o papa Estêvão V como responsável pelo que ficou conhecido como "Sínodo do Cadáver". No entanto, o papa responsável pelo sínodo na realidade foi Estêvão VI, que por alguns é chamado de Estêvão VII. O que ocorre é que o papa Estêvão morreu antes de assumir o pontificado, e seu sucessor adotou o mesmo nome. Segundo as leis canônicas modernas, o candidato se torna papa logo que é eleito, não quando toma posse. Portanto, o primeiro destes dois Estêvãos passou a ser conhecido por "Estêvão I", alterando a numeração de todos os demais Estêvãos. Logo, o papa que na época era Estêvão VI hoje é conhecido por Estêvão VII. De qualquer modo, esta confusão não justifica o erro.
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