FLORES, Maria Bernadete Ramos. Os espanhóis conquistam a Ilha de Santa Catarinana: 1777. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.
Utilizando-se de trabalhos já conceituados da historiografia sobre Santa Catarina, além de fontes documentais precisas, a professora do departamento de História da UFSC Maria Bernadete Ramos Flores lançou, em 2004, a obra Os espanhóis conquistam a Ilha de Santa Catarina. O livro em questão faz parte da Coleção Rebento, organizada pela professora Élio Cantalício Serpa, com outros livros sobre a história de Santa Catarina.
Desde o início, deve-se ter claro que a intenção da autora não foi fazer um trabalho estritamente acadêmico, mas sim, algo que possa atingir um público mais amplo. Sua escrita é de leitura agradável e flui com naturalidade, dialogando com os documentos e dando vida aos personagens das narrativas, todos eles verídicos. A autora, inclusive, discute tal opção ao fim do livro. A escolha do título tem o mesmo objetivo; não existia Espanha como nação unificada em 1777, fora o então reino de Castela que perpetrou a conquista da ilha que viria a se tornar o município de Florianópolis.
Tentando trazer a tona a confluência de motivos e acontecimentos que culminaram na conquista da ilha, Maria Bernadete trabalha com a correspondência e os documentos oficiais da época – as fontes que restaram – para reconstruir, passo a passo, a chegada da frota espanhola. Mostra as lacunas causadas pela demora entre as comunicações e a divergência de informações entre as partes envolvidas. Dizia-se que havia um contingente militar maior do que realmente havia para a defesa da ilha e nas fortalezas construídas para tal fim. A Ilha era um local estratégico importante para ambas as coras – portuguesa e espanhola –, pois tratava-se de um local onde as naus poderiam aportar vindos das capitanias ao norte rumo à Sacramento, Rio da Prata, entre outros. Para os espanhóis, era um local onde as penúrias da travessia do atlântico poderiam ser aliviadas.
A conquista ocorreu sem maiores empecilhos. Não houve resistência de um só homem, e as bandeiras de Castela foram hasteadas por todos os cantos. Durante um ano e meio a coroa espanhola teve posse da Ilha, até que um acordo entre Dona Maria I e Dom Carlos III – a primeira sobrinha do segundo – devolvesse a Ilha a Portugal. A autora tenta tratar tanto o período anterior à conquista quanto posterior, abordando aspectos como, por exemplo, o povoamento da Ilha e os relatos sobre seu cotidiano por parte de viajantes.
Dentro de sua proposta, Maria Bernadete obteve êxito com a obra. De fácil leitura, o livro pode ser devorado em questão de horas por qualquer leitor interessado no tema. Traz durante o corpo do texto uma extensa quantidade de transcrições de documentos, que aumentam a sensação de uma narrativa literária, contribuindo para sua apreciação, além de informar detalhadamente a localização dos documentos utilizados na pesquisa. Eis uma página da história de Santa Catarina que a grande maioria de sua população desconhece por completo. Indicado para quem tem interesse na história do estado e na colonização açoriana.