22 de outubro de 2009

Jean-Claude Schmitt - O corpo das imagens


SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: Ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2007.

Depois de um hiato de mais de dois meses, eis que finalmente posto uma nova resenha no blog. Esses últimos meses foram atribulados o suficiente para que minha leitura fosse atrasada e interrompida uma miríade de vezes. Sem mais delongas, vamos ao livro.

Todas as imagens têm sua razão de ser. Talvez devamos começar a analisar esta obra á partir deste ponto de vista. A antropologia cristã fora inegavelmente moldada através da iconografia; e nesse caso, quanto mais comum a imagem, mais ela nos revela as tendências da época em que elas foram produzidas. A função deste livro é discorrer sobre a imagem e suas funções durante toda a idade média.


A imagem, do latim imago, exprime um sentido. Pode carregar em si valores simbólicos, e por conta desta característica, acaba se tornando uma eficaz ferramenta de função política, religiosa ou ideológica; funções essas que não se prendem unicamente à imagem medieval. Como imagem, não podemos entender apenas pinturas ou esculturas. Por mais que estas formas de representação sejam o foco de Schmitt, devemos compreender que existem diversos suportes para a representação imagética, independente do que está sendo representado. Um deles, no entanto, é deveras ignorado: a imaginação. Esta se mescla com o real, dando origem a grande parte da iconografia cristã. Não nos esqueçamos que muito do que temos em mente á respeito de escatologias, por exemplo, é oriundo unicamente da imaginação dos responsáveis pelas obras de arte que as representam. Os elementos dessas obras, mediante orientação, brotam da mente dos artistas; ou seja, de sua imaginação.

Durante a Idade Média, as imagens serviam como mediadoras diretas entre o divino e o terreno. A confecção das mesmas era minuciosamente planejada para despertar emoções naqueles que as observavam. Desde o uso de pigmentação dourada para refletir a luz, até as representações de chagas para dar ênfase ao sofrimento de Cristo, por exemplo, muitos eram os artifícios para que as imagens, ou ao menos suas mensagens implícitas, se perpetuassem na imaginação dos que as observavam.

Jean-Claude Schmitt procura levar em conta não somente as imagens e o imaginário cristão medieval. O autor não se esquece de suas funções e seus usos no contexto social da época. Em um mundo em constante transformação, as imagens possuíram uma função deveras importante.

Sejam pinturas, sejam esculturas, sejam os sonhos ou a imaginação, as imagens tiveram um papel fundamental nessa antropologia cristã, em um período aonde ela definiu a maioria dos seus paradigmas.

Para todo historiador que almeja especializar-se em estudos iconográficos ou almejar manter contato com detalhes da história do cristianismo, independente do período, O corpo das imagens é, inegavelmente, uma obra de suma importância. Não nos esqueçamos que até os dias de hoje a iconodulia católica e a iconoclastia protestante – e de outras religiões – suscita conflitos ferrenhos. Entender a origem deste conflito e a argumentação de ambas as partes da contenda é fundamental para impedir julgamentos precipitados e sem embasamento. Uma leitura altamente recomendada.

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