14 de junho de 2009

Jacques Le Goff - A Bolsa e a vida

LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

Usura. Esta é a palavra que será repetida uma infinidade de vezes durante o decorrer desta obra sendo o tema central deste livro de Jacques Le Goff. Confesso que soa um tanto hipócrita que na apresentação do blog eu tenha falando sobre a facilidade de se procurar material de Le Goff, Foucault e outros por serem conhecidos e agora estar postando dois livros deste autor em sequência. No entanto, são livros baratos, relativamente fáceis de se encontrar e possuem um conteúdo muito rico para a compreensão da cultura medieval e sua sociedade como um todo, novamente salientando a impossibilidade de o fazer sem envolver a religião, mais precisamente o cristianismo – sob a forma da Igreja Católica Apostólica Romana.


Para iniciar a resenha, creio que seja necessário primeiro elucidar o significado da palavra usura, que caiu em desuso com o passar do tempo. Usura é o ato de se emprestar dinheiro e obter lucro em cima dos juros decorrentes do tempo. Em outras palavras, empréstimo, geralmente sob altos juros.

A principal problemática do livro gira em torno da condenação ferrenha do cristianismo à pratica da usura. Segundo os católicos, o usurário era a pior espécie de ser humano. Enquanto ladrões roubavam bens e objetos, o usurário roubava Deus. Ora, se o usurário empresta o dinheiro e recebe o lucro em cima do tempo, sendo Deus o único dono e senhor do tempo, logo o usurário está roubando a Deus. O problema é que essa condenação exagerada do usurário começou a se tornar inconveniente quando aos poucos o sistema capitalista começou a dar mostras de nascimento. Então, convenientemente, criou-se a idéia de que um usurário, caso devolvesse o lucro ilícito proveniente da usura antes da morte, poderia encontrar a salvação – esta provavelmente pelo purgatório. Como em um determinado trecho é explicitado: “O purgatório, decididamente, não é mais do que uma oportunidade que o cristianismo dá ao usurário no século XIII, mas só o purgatório lhe assegura o paraíso sem restrição.”

O livro ilustra através de pequenas parábolas da época o medo que o usurário tinha da morte e todos os infortúnios que a prática da usura o traria, em vida ou após a morte. Mostra também o quanto essa aversão contribuiu para agravar a imagem negativa que o ocidente medieval cristão possuía dos judeus.

Porém, como já dito anteriormente, os usurários foram peças fundamentais para a formação do capitalismo como o conhecemos atualmente. Os usurários do passado – pelo menos boa parte deles – se tornaram comerciantes, e assim esses sistema econômico teve seu surgimento.


Considero o trabalho anteriormente resenhado (O Deus da Idade Média) mais interessante, mas devo dizer que isso se deve ao fato de eu ser mais interessado nos aspectos religiosos do que político-econômicos das civilizações. Este livro torna-se de grande valia para qualquer um que queira entender como a religião teve que adaptar-se às mudanças da sociedade, mesmo aquelas que feriam suas doutrinas mais antigas.

Preço médio: 21,90