O texto abaixo foi escrito ontem, 01 de setembro de 2015:
Hoje, há 76 anos atrás, se iniciava a Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram a Polônia.
Essa data é questionada por alguns. Não a invasão, mas a escolha dela como marco inicial do conflito. Afinal, em 1935 Mussolini lançou o ataque contra a Abissínia (o Reino da Etiópia) sem nenhuma provocação para tal (diante do fato que a Itália ficou pra trás na corrida colonialista e foi ignorada pelas demais potências após o a vitória na Primeira Guerra Mundial). O imperador da Abissínia, Haile Selassie, fugiu para o exílio e o regime instalado pelos italianos ceifou milhares de vidas.
Em 1936, se iniciou a Guerra Civil Espanhola. Ainda que fosse uma guerra civil reduzida a um país, contou com contingente militar de diferentes países, todos interessados em apoiar os grupos políticos que lhes interessava ter no comando da Espanha. Alemães, soviéticos, ingleses... Diferentes nações se engajaram no conflito e não é incomum encontrar interpretações de que a Guerra Civil Espanhola foi um "laboratório para a Segunda Guerra Mundial". Podemos falar isso especialmente no que concerne à aviação. A Luftwaffe foi de extrema ajuda aos fascistas espanhóis, e os soviéticos também mandaram aviadores para lá, alguns dos quais lutaram também na Segunda Guerra. Lev Shestakov, um dos grandes ases da URSS durante a Segunda Guerra, foi um dos aviadores que também lutou na Espanha.
Os japoneses já atuavam na China desde a década de 1931 (e a luta entre China e Japão fez parte da Segunda Guerra, tanto que alguns consideram a China como "o aliado esquecido"), mas os conflitos menores se tornaram uma guerra em larga escala no verão de 1937, sendo que em 1936 a Alemanha já era aliada do Japão e da Itália por conta do tratado antiComintern. O conflito se estendeu durante a guerra, tanto que a vitória do Exército Vermelho na Manchúria contra os japoneses foi uma das batalhas mais importantes da Segunda Guerra Mundial. Esta, contudo, não costuma ter muito destaque, exceto entre entusiastas e especialistas da Segunda Guerra Mundial, especialmente adeptos da História Militar Operacional.
Por fim, o Tratado de Munique entre Inglaterra, França, Alemanha e Itália cedeu, em 1938, parte da Tchecoslováquia à Alemanha, e há quem considere isso parte do conflito (principalmente os russos pró-soviéticos que trazem o tratado de Munique à tona para tentar diminuir o foco na moralidade do Tratado Molotov-Ribbentrop.
A Wehrmacht em Varsóvia |
Estes são apenas alguns exemplos de eventos históricos diretamente relacionados à Segunda Guerra Mundial que poderiam ser tomados como marcos iniciais do conflito. No entanto, tais reconhecimentos e possíveis proposições de mudanças dos paradigmas já historicamente consolidados não viriam sem debates políticos e tensões diplomáticas. A intenção dessa postagem, no entanto, é menos propor uma perspectiva revisionista e mais atentar a quem lê este pequeno texto (especialmente pra quem não é muito ligado em ciências humanas) para o caráter político que as datas, algo que nós muitas vezes relegamos a meros marcos temporais, podem ter de acordo com seus usos.
Eu, pessoalmente, acho que a invasão da Polônia é um marco justo de início de conflito. Enquanto os movimentos anteriormente citados de caráter bélico eram, a despeito de apoios, relações de força bilaterais, o sistema de alianças colocou os Aliados e Eixo uns contra os outros apenas após esta invasão, dada a promessa - não cumprida - de ação por parte do Reino Unido e França caso a Polônia fosse atacada pela Alemanha. No entanto, é um bom exercício a qualquer historiador refletir criticamente sobre certas escolhas históricas.
Icles Rodrigues
Icles Rodrigues