BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
O livro abre com a abertura da “Parábola do Grande Inquisidor”, de Feodor Dostoievski, trabalho este embutido no romance “Os Irmãos Karamázovi”, publicado no fim do século XIX na Rússia. Nele, um inquisidor se encontra com um homem que, ao que tudo indica, é Cristo reencarnado. Porém, ao invés de prestar-lhe reverência, lhe prende nas masmorras da inquisição, levando sua função até as últimas consequências. Uma fábula cuja função, no contexto do livro, serve para exemplificar a implacabilidade da instituição.
Durante o tempo, os “adversários” que a Igreja teve que enfrentar foram diversos. Como se não bastasse a paranoia de caça às bruxas, a Igreja enxergava rivais e inimigos de sua doutrina nos protestantes, nos supostos místicos, na Maçonaria e até mesmo em governantes laicos. A ação do Santo Ofício em cada caso foi diferenciada, mas em todos eles dispensava sutilezas.
No início desta resenha, falava sobre a existência do Santo Ofício nos dias atuais. De fato, ele ainda vive, só que é atualmente conhecido pelo epíteto de “Congregação para a Doutrina da Fé”. Como os autores citam em certo trecho, uma “plástica” para tentar dissolver o desgaste obtido com a má imagem do órgão eclesiástico durante os séculos. O livro, que fora lançado originalmente em 1999, termina falando sobre o período do pontificado de João Paulo II. No entanto, o que mais me chamou a atenção é que um longo capítulo do livro, que leva o atual nome do Santo Ofício, fala sobre o Prefeito da Congregação. Com um certo tom denunciador, os autores apontam diversas incongruências de suas palavras e o caráter supostamente obsoleto de suas afirmações. Pinta-o de forma extremamente conservadora e radical. O interessante é que esse, na época Prefeito da Inquisição, era o Cardeal Ratzinger, que futuramente seria eleito como o Papa Benedito XVI (ou Bento XVI, como normalmente veiculado na mídia).