19 de janeiro de 2010

Michael Baigent & Richard Leigh - A Inquisição


BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
Dotada de grandes poderes em diversas épocas e de um nome que, por si só, era suficiente para inserir medo às massas, A inquisição fora um braço da Igreja que durante séculos, a ferro e fogo – principalmente este último –, perpetrou intimidações, pressão psicológica, tortura física e execuções. No entanto, devo retificar-me de um erro proposital, pois a Inquisição não “fora” um braço da Igreja. Permanece sendo até os dias atuais. E é sobre este órgão que Michael Baigent e Richard Leigh falam em sua obra, que leva como título o nome mais famoso do Santo Ofício.
O livro abre com a abertura da “Parábola do Grande Inquisidor”, de Feodor Dostoievski, trabalho este embutido no romance “Os Irmãos Karamázovi”, publicado no fim do século XIX na Rússia. Nele, um inquisidor se encontra com um homem que, ao que tudo indica, é Cristo reencarnado. Porém, ao invés de prestar-lhe reverência, lhe prende nas masmorras da inquisição, levando sua função até as últimas consequências. Uma fábula cuja função, no contexto do livro, serve para exemplificar a implacabilidade da instituição.
O tribunal da Inquisição é mais complexo e duradouro do que geralmente se acredita. Repleto de nuances, sua atuação durante os séculos fora até certo ponto padronizada, mas a violência de suas atividades oscilara de acordo com o contexto da época e o local de ação. O livro faz um sensacional trabalho em abordar essas questões. Nele, os autores têm o cuidado de separar, por exemplo, a atuação da Inquisição espanhola, que agia como um braço do estado, da Inquisição que agia sob auspícios papais. Não apenas isso. No decorrer do trabalho, os autores dissertam sobre a ação da Inquisição nas diversas áreas da Europa, no novo mundo, o ataque às supostas bruxas e alguns dos casos mais importantes relativos ao tema, como a cruzada contra os Cátaros, incitada por Inocêncio III e levada a cabo com afinco pelos inquisidores.

Durante o tempo, os “adversários” que a Igreja teve que enfrentar foram diversos. Como se não bastasse a paranoia de caça às bruxas, a Igreja enxergava rivais e inimigos de sua doutrina nos protestantes, nos supostos místicos, na Maçonaria e até mesmo em governantes laicos. A ação do Santo Ofício em cada caso foi diferenciada, mas em todos eles dispensava sutilezas.

No início desta resenha, falava sobre a existência do Santo Ofício nos dias atuais. De fato, ele ainda vive, só que é atualmente conhecido pelo epíteto de “Congregação para a Doutrina da Fé”. Como os autores citam em certo trecho, uma “plástica” para tentar dissolver o desgaste obtido com a má imagem do órgão eclesiástico durante os séculos. O livro, que fora lançado originalmente em 1999, termina falando sobre o período do pontificado de João Paulo II. No entanto, o que mais me chamou a atenção é que um longo capítulo do livro, que leva o atual nome do Santo Ofício, fala sobre o Prefeito da Congregação. Com um certo tom denunciador, os autores apontam diversas incongruências de suas palavras e o caráter supostamente obsoleto de suas afirmações. Pinta-o de forma extremamente conservadora e radical. O interessante é que esse, na época Prefeito da Inquisição, era o Cardeal Ratzinger, que futuramente seria eleito como o Papa Benedito XVI (ou Bento XVI, como normalmente veiculado na mídia).

Eis um livro que recomendo tanto para historiadores quanto para meros entusiastas da disciplina de História. Sua leitura é deveras agradável e em nenhum momento se torna enfadonha. Altamente recomendado.


Preço médio: R$ 63,00